Vincent Mottez estará no Press Day Online da Kolbe Arte, que acontece nesta quinta-feira (5), com transmissão pelo YouTube da distribuidora, apenas para inscritos e pessoas com acesso ao link.
Por Virgínia Diniz – Assessoria de imprensa Kolbe Arte
Estreia hoje nos cinemas brasileiros o filme francês Vencer ou Morrer (Vaincre ou Mourir), que retrata a heroica resistência católica durante a Revolução Francesa. Em entrevista exclusiva concedida à Kolbe Arte, distribuidora oficial do filme no Brasil, o codiretor e roteirista Vincent Mottez fala sobre os bastidores da produção, sua inspiração histórica, o papel da fé na narrativa e o impacto que o longa pode causar no público brasileiro — o maior país católico do mundo.
Com uma trama baseada em fatos reais e marcada pela coragem de homens e mulheres que deram a vida por sua fé, o filme chega como uma poderosa reflexão sobre liberdade religiosa e valores cristãos na contemporaneidade.

Como surgiu a ideia de escrever e dirigir um filme sobre a Guerra da Vendeia? Foi um projeto pessoal desde o início?
VM: A história da França sempre esteve no centro do meu trabalho anterior, seja como documentarista – especialmente para um programa famoso na França, Secrets d’Histoire – ou como autor de livros e histórias em quadrinhos sobre Napoleão ou Joana d’Arc. Sempre tive um interesse especial pela Guerra da Vendeia e, de modo mais amplo, pela Revolução Francesa. Já lia livros de historiadores especializados no tema há anos. Assim, quando o produtor (Puy du Fou Films) me convidou a colaborar em Vaincre ou Mourir, dedicado à vida do general vendeano François-Athanase Charette de la Contrie, aceitei imediatamente. Eu tinha não apenas paixão pelo tema, mas também a convicção de que a Guerra da Vendeia oferecia material cinematográfico riquíssimo, combinando elementos épicos e dramáticos extraordinários. No século XIX, grandes escritores como Balzac, Victor Hugo e Alexandre Dumas já se inspiraram nela, deixando verdadeiras obras-primas literárias. Era natural que o cinema também abordasse esse tema. Foi um desafio maravilhoso.
Quais foram os maiores desafios durante o processo de roteiro, especialmente tratando de um episódio histórico tão complexo e pouco conhecido?
VM: A escrita do filme foi focada em respeitar ao máximo os fatos históricos. Apresentamos todos os grandes momentos da epopeia de Charette. Não foi preciso inventar elementos fictícios ou recorrer a artifícios, pois sua história já é fascinante por si só. No entanto, foi necessário simplificar certos aspectos, como seus conflitos com outros generais do Exército Católico e Real, para tornar a história mais acessível ao grande público. É preciso conciliar autenticidade e entretenimento — o que nem sempre é fácil! Baseei-me especialmente em memórias de combatentes vendeanos que estiveram ao lado de Charette, o que me forneceu anedotas e frases reais ditas por ele, como sua famosa: “Nada está perdido”. Os diálogos entre os personagens deixaram espaço para a imaginação, já que obviamente não estávamos lá! Mas tentei escrevê-los de forma crível, respeitando o espírito da época, sem impor uma visão contemporânea – o que considero um erro a evitar.
Como foi construída a figura de François de Charette no roteiro? Que elementos você destacou para transmitir sua humanidade e liderança?
VM: Charette é um dos generais mais emblemáticos da Vendeia e, sem dúvida, o mais interessante para o cinema, por sua longevidade na guerra e por sua estratégia visionária. Ele é uma espécie de “Gerônimo da Vendeia”. A comparação com o chefe apache vem não apenas de sua luta até o fim com um punhado de fiéis seguidores, mas também de sua técnica de guerrilha – a “pequena guerra”, como ele a chamava. Preferia evitar grandes batalhas frente a exércitos bem equipados, apostando em emboscadas e ataques surpresa. Assim como Gerônimo transformou as montanhas da Sierra Madre em labirintos perigosos para seus inimigos, Charette fez o mesmo com as florestas da Vendeia. E fiel ao seu lema – “Combatido: muitas vezes; derrotado: às vezes; abatido: nunca” – ele decidiu lutar até a morte.
Charette também é fascinante do ponto de vista psicológico: um homem cheio de contradições, sedutor, impetuoso, mergulhado na violência dessa guerra civil. Como aplicar a caridade cristã num contexto de guerra brutal? Deveriam os prisioneiros ser poupados ou executados, como fazia o exército republicano? O roteiro evita hagiografias. Não esconde o lado sombrio do personagem, como sua decisão de seguir lutando sozinho, arrastando jovens à morte certa. Charette é um herói, mas não um santo.
Durante as filmagens, houve momentos em que você sentiu a necessidade de mudar o que havia escrito no roteiro? Como foi essa transição da página para o set?
VM: Vencer ou Morrer foi inicialmente concebido como um docudrama para televisão. A estrutura original era baseada em entrevistas com historiadores, que contextualizavam as cenas. Com a transição para o longa-metragem, repensamos a narrativa. Introduzimos uma voz em off de Charette, que narra sua própria história num espaço fora do tempo – uma espécie de “quarta dimensão” – que ganha sentido no final do filme. Essa ideia permitiu dois ganhos: primeiro, oferecer ao público elementos de contexto que ajudam a entender a complexa Guerra da Vendeia; segundo, criar uma dimensão introspectiva, íntima, onde o personagem se revela e emociona. É uma confissão imaginária, mas baseada em documentação sólida.
Qual é a importância de contar essa história hoje, especialmente para públicos internacionais que desconhecem a Guerra da Vendeia?
VM: A Guerra da Vendeia tem suas particularidades, mas trata-se de uma história universal. É a luta entre fracos e fortes, oprimidos e opressores, entre os que querem mudar a ordem e os que querem preservá-la. Podemos compará-la, por exemplo, à revolta dos Cristeros no México, no século XX. Por isso o filme pode ser compreendido em qualquer latitude, mesmo por quem nunca ouviu falar da Vendeia. Muitos franceses não conheciam! Qualquer um entende o que é ser perseguido por suas crenças religiosas e resistir. Se a Revolução Francesa foi a matriz das revoluções modernas, a resistência da Vendeia foi a matriz das contrarrevoluções. Os combatentes escolhem o Sagrado Coração de Jesus como símbolo, junto ao lema: “Por Deus e pelo Rei”. O Brasil, sendo um país de forte fé católica, certamente se interessará por essa história. Mas o filme é acessível a todos – católicos ou não. Há ali valores humanos universais.
Qual foi o maior desafio ao retratar uma resistência católica tão pouco conhecida?
VM: O maior desafio foi evitar clichês e caricaturas. A Guerra da Vendeia não foi um confronto entre “obscurantismo católico” e “progresso republicano”. As coisas são mais nuançadas. Os próprios vendeanos acolheram a Revolução no início, pois queriam reformas. O pai de Henri de La Rochejaquelein, por exemplo, participou dos Estados Gerais em 1789! A revolta começa com os camponeses, que depois buscam os nobres nos castelos para liderá-los, já que tinham experiência militar. Esses nobres aceitaram ser comandados por Cathelineau, um simples carroceiro. Enquanto isso, os exércitos revolucionários eram liderados por aristocratas… As mulheres também tiveram papel importante – como as “amazonas” de Charette. Os vendeanos, embora apegados à tradição, também tinham sensibilidade democrática.
O que o público católico pode aprender com os heróis da Vendeia?
VM: Os heróis da Vendeia, como Charette e tantos outros, são exemplo de lealdade e coragem. Estavam dispostos a sacrificar tudo – inclusive a vida. Mesmo derrotados militarmente, saíram vitoriosos na posteridade. Charette dizia: “Nada está perdido”. Isso se conecta com a visão católica da salvação: o que fazemos na vida repercute na eternidade. Lutamos não para vencer, mas porque é justo lutar. O sentido está na entrega.
Como a fé e o amor pela missa aparecem como motores da resistência no filme?
VM: No filme, mostramos os vendeanos celebrando missas clandestinas, até em florestas, com padres perseguidos. A fé os sustentava. Passaram por um inferno, mas com coragem espiritual. Isso lembra os primeiros cristãos, que aceitavam o martírio com esperança. Há uma dimensão sacrificial, própria da fé católica: renunciar a si mesmo por algo maior. Enfrentar a morte em nome da vida eterna.
Qual mensagem você gostaria que cada família levasse para casa após assistir ao filme? Se pudesse dizer uma frase ao povo católico do Brasil, qual seria?
VM: Um oceano e dois séculos nos separam dessa história, mas espero que o público brasileiro encontre nela uma mensagem de esperança, por meio dos valores heroicos retratados. Cada um pode se inspirar em Charette e lembrar que “nada está perdido”. Cada gesto, cada palavra conta. Saúdo calorosamente o povo brasileiro. Já visitei o Brasil e fiquei encantado. Os brasileiros são generosos, acolhedores, alegres. Tenho grande interesse pela história do país, especialmente por Dom Pedro II, que tinha forte vínculo com a Europa e com a França, inclusive amizade com Victor Hugo. Espero que Vencer ou Morrer fortaleça esse laço cultural entre França e Brasil.
Vencer ou Morrer estreia hoje no Brasil e fica em cartaz até o dia 11 de junho. Abaixo, confira algumas das sessões já confirmadas em diferentes regiões do Brasil. Clique aqui para acompanhar a atualização das salas pelo site. Garanta já o seu ingresso.
Informações: www.kolbearte.com.br/venceroumorrer
Segue Press kit: https://bit.ly/4j3Fqv7
Entrevistas: imprensa@kolbearte.com.br